PLÁSTICO: COMO ELE PODE DEIXAR DE SER VILÃO?

A responsabilidade de cada um de nós sobre o lixo que produzimos e como é descartado já não é novidade. A poluição de rios e mares, a morte de animais e os danos irreversíveis ao meio ambiente causados por milhões de toneladas de materiais descartados incorretamente é uma constante preocupação de boa parte da sociedade.

Um dos vilões desse triste cenário é o plástico. De acordo com uma projeção feita por um grupo de cientistas, se o mundo continuar no ritmo atual, nos próximos 10 anos serão 99 milhões de toneladas de resíduos plásticos que muito provavelmente chegarão ao meio ambiente. Jenna Jambeck, professora de engenharia da Universidade da Geórgia, que fez parte do grupo, faz uma analogia: seria como despejar nos oceanos um caminhão de lixo cheio de plástico a cada minuto, o dia inteiro, todos os dias do ano.

O gerenciamento de resíduos plásticos passou a ser tema de estudos em todo o mundo, diante de outro dado assustador: apenas 10% de tudo que é descartado é reciclado. Uma das inovações que nasceram desses estudos veio por meio do holandês Dave Hakkens, que durante a faculdade de design, iniciou um projeto de criação de máquinas que tratassem o plástico em pequena escala, possibilitando sua reciclagem e transformação em objetos úteis e duráveis, de forma local. Nascia a Precious Plastic, que posteriormente se tornou uma rede mundial.

As máquinas são baseadas em processos industriais, mas foram adaptadas para serem fabricadas e operadas em pequena escala. Os projetos são open source, abertos e disponíveis para serem utilizados por qualquer pessoa com conhecimento apropriado.

São 4 as máquinas principais:
(a)trituradora, que transforma o plástico em pequenos flocos; (b) extrusora: transforma os flocos num filamento contínuo, permitindo a moldagem e fabricação de objetos diversos; (c) injetora: os flocos viram uma massa mole, que injetada em um molde adquire o formato desejado; (d) prensa, permite a fabricação de chapas planas a partir dos flocos, que são ideais para aplicar técnicas de marcenaria, decoração etc.

No Brasil, já temos pequenos empreendedores transformando essa triste realidade da poluição do plástico em fonte de renda, impedindo que o material seja descartado indevidamente. Um exemplo é o Felipe, da Arte8 Reciclagem, que fabrica objetos como banquinhos e também placas utilizadas por arquitetos ou designers de interiores e exteriores. Ele participou do projeto Voz dos Oceanos, fornecendo lindos chaveiros personalizados para a Família Schurmann, todos feitos com 100% de plástico reciclado. Suas máquinas foram fabricadas pelo engenheiro mecânico, Alexandre, da Precious Plastic Cotia (www.preciousplasticcotia.com.br), que adaptou os projetos para a realidade brasileira.

Sabemos que o ideal é reduzir a quantidade de plástico sendo produzida, substituir itens sempre que possível, o que exige um forte trabalho de consciência ambiental e políticas públicas.

Enquanto isso, diante do grave problema, o jeito é enfrentá-lo. Por isso, Felipe destaca “Meu sonho é que seja como padaria, tenha em todo lugar alguém trabalhando com plástico, produzindo algo durável, evitando que o resíduo vá para os aterros e alcance os oceanos.”. Outra empreendedora é a Luiza, sócia fundadora da Plasmo Hub, que após conduzir testes da operação de reciclagem local, está pivotando uma solução para garantir a demanda dos produtos feitos nessas oficinas de reciclagem pelo Brasil, através de um app que pontua e conecta recicladores com suas comunidades, que foi desenvolvido considerando a realidade dessas oficinas. “Se conseguirmos replicar em outros lugares o fator que faz da Índia o país que mais recicla plástico no mundo, graças à capilaridade de seu sistema informal de coleta seletiva, que chega a concentrar quatro catadores por km² em cidades como Nova Delhi, conseguiremos reduzir o volume de resíduos descartados no meio ambiente”, afirma Luiza.

Esses e tantos outros que trabalham com isso têm como propósito garantir a circularidade do plástico, formando uma rede colaborativa desde a coleta do material, sua transformação e a venda do produto. Esta rede potente permite a geração de renda desde o início do processo: coletores de plásticos, oficinas que fabricam as máquinas, cooperativas que podem vender o plástico coletado, artesãos e demais profissionais envolvidos na criação de produtos.
Faça parte desta rede você também!

Marise Uemura. Professora de Empreendedorismo
e Doutora em Administração pela FEAUSP.

Matéria da revista AETEC 39º edição.

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