PAULO.

O então presidente do Comitê de Honra do 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA2021RIO, que, agora em julho, além de palestrar, receberia a Medalha de Ouro em arquitetura do mesmo evento, não estará conosco.

Paulo Mendes da Rocha, o primeiro brasileiro que recebeu um Pritzker, nos deixou, aos 92 anos de idade, uma personalidade reverenciada pela expressividade de sua produção em todo o mundo.

Para entendermos o tamanho do Paulo, Pritzker é o maior prêmio da Arquitetura no mundo a ser entregue ao arquiteto cuja obra tenha produzido significativas contribuições para a humanidade ao longo dos anos.

Recebeu também o prêmio Leão de Ouro, que destacou o conjunto de sua obra na Bienal de Veneza em 2016, e outros.

Nascido em Vitória, Mackenzista da turma de 1954, um dos mais expressivos profissionais do que ficou conhecida como Escola Paulista de Arquitetura Brasileira, iniciada por outro gigante, J.B.Vilanova Artigas.

Além da identidade conceitual da escola paulista em seus projetos, Paulo Mendes lecionou embasado nesses mesmos conceitos, foi mestre em projeto da FAU-USP entre 1961 e 1999, com um hiato de 11 anos nesse período quando foi afastado pela ditadura militar de sua cadeira como tantos outros professores.

Por dois mandatos, presidente do IAB/SP.

Autor de projetos brilhantes como a reforma da Pinacoteca, o SESC 24 de Maio, Edifício Guaimbé, e o EstádiSerra Dourada. Também autor de projetos polêmicos como o Museu Brasileiro da Escultura, o pórtico na Praça do Patriarca, e o Cais das Artes, que dividem opiniões seja pela plasticidade inerente do viés da escola paulistana seja pelo seu desenho e relação com o entorno, muito além do que se poderia prever como solução arquitetônica.

Doou, há pouco tempo, todo o acervo de projetos (mais de 70 anos de trabalho em desenhos, maquetes, peças) à Casa de Arquitectura em Portugal, onde foi sócio ao lado do português Eduardo Souto de Moura, outro ganhador de um Ptritzker. A Casa abrigou em 2018 a maior exposição sobre arquitetura brasileira já realizada no mundo. O mate[1]rial segue sendo catalogado e será disponibilizado para acesso através do projeto chamado Edifício Digital, gratuitamente.

O trabalho inquieto e instigante desse grande estará perpetuamente conosco, e seguiremos levando adiante e refinando seus conceitos e sensibilidades. Que a inquietação desse trabalho seja motriz para todos do colegiado arquitetônico, em transformarmos o mundo em um lugar mais belo. Que palavra enorme é belo, abrange tanto, abrange tudo na poesia da vida.

Mas diferente das obras de Paulo Mendes da Rocha, que ficam. Ele, a pessoa Paulo, se foi. Então, termino essa breve homenagem citando o próprio Paulo que disse, referindo-se à ditadura, mas reflexão tão pertinente quando pensamos no que nós, brasileiros, estamos vivendo nesse momento:

“A história não é feita de gracinhas. Ela é difícil, dolorosa, e deve servir de exemplo para que não se repitam desastres tão estúpidos”.

Tchau Paulo, muito obrigada, por TUDO.

Mariana Meneghisso Arq. Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes. Titular, há 15 anos do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura www.pasquottoarquitetura.com.br

Matéria da revista AETEC nº36 edição.

Revista online

Boa leitura!

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