MUDANÇAS CLIMÁTICAS: SMART CITIES COLOCAM EM PRÁTICA SOLUÇÕES PARA LIDAR COM ENCHENTES URBANAS

Cidades como Curitiba, Nova York e Copenhague implantam projetos que auxiliam no controle do volume dos rios, mares e chuvas de forma integrada ao ambiente urbano

As mudanças climáticas vêm dando mostras de seus efeitos, que vão além do aquecimento global e já perpassam o dia a dia das cidades pelo mundo. Uma dessas consequências é o aumento no volume das marés e da cheia dos rios, que provocam enchentes e alagamentos – um assunto que já se tornou “notícia repetida” em todos os inícios de ano, em muitas regiões do Brasil. Mas de que forma as soluções das smart cities podem contribuir para prevenir esse cenário?

Antes de tudo, é preciso ressaltar que a tecnologia conta bastante, mas os projetos mais resolutivos muitas vezes são aqueles que se utilizam da experiência de cada local para lidar com as intempéries. Em Curitiba, há décadas temos o uso de parques para auxiliar na vazão dos rios, bem como a malha verde, criada graças à cobertura de apenas parte das calçadas, para permitir maior área de drenagem da água das chuvas.

Outro projeto recente na capital paranaense foi comandado pela engenheira Marlise Jorge, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), finalista do Prêmio Nacional da Agência Nacional de Águas (ANA) e selecionado para um dos awards, em Barcelona, do Smart CityWorld Congress, em 2015.

Com o título “Transformação do Saneamento de Curitiba através do plano de despoluição hídrica e monitoramento da qualidade dos rios”, o projeto parte de um estudo profundo sobre os rios urbanos que cortam Curitiba e sua “interação” com a malha da rede de esgotos. Criado em 2014, um software consegue identificar ligações clandestinas que causam poluição e forte odor nos rios, para que seja encaminhada uma diligência ao local a fim de ligar corretamente a fonte desse esgoto.

Com isso, a linha irregular deixa de ser despejada no rio e vai para a rede de escoamento desses dejetos, nas galerias de captação da Sanepar. E uma vez identificados, os responsáveis são penalizados.

Outras alternativas utilizadas pelo mundo envolvem a arquitetura no combate a inundações. O que é extremamente necessário, se levarmos em consideração que 40% da população mundial vive próxima às áreas litorâneas, sendo que 10% delas estão alocados a apenas dez metros acima do nível do mar.

Em Copenhague, na Dinamarca, um projeto-piloto foi desenvolvido para aumentar a absorção de água da chuva em até 30% na cidade, uma resposta ao aumento de índices pluviométricos previsto para os próximos anos. É o Climate Tile, criado em parceria da Third Nature, IBF e ACO Nordic.

Outro case interessante apresentado pela Arch Daily Brasil vem da cidade de Nova York que, em 2019, anunciou um investimento de mais de 10 bilhões de dólares para o desenvolvimento de projetos e soluções para conter as inundações da parte baixa de Manhattan. Uma parte expressiva será alocada na ampliação de áreas verdes permeáveis, além de um sistema de barreiras removíveis para situações de emergência. No East River, as margens do rio serão deslocadas em 150 metros, criando uma nova área de domínio público, elevando o nível da rua para proteger a cidade das inundações.

Já na Coreia do Sul, em Seul, ao invés de construir estruturas para evitar as inundações, a cidade desenvolveu um projeto que facilita a absorção do excesso de água em seu tecido urbano. Antes coberto por estradas, o rio Cheonggyecheon, que atravessa a cidade, foi completamente redescoberto em 2003. O local se transformou em um novo centro de convívio da comunidade.

Implantado abaixo do nível da rua, o projeto de reurbanização da orla do rio foi desenvolvido para ampliar a capacidade de vazão durante as enchentes, que são recorrentes durante as estações chuvosas da capital sul-coreana. E na maior parte do ano, o espaço é utilizado livremente pelos cidadãos.

As soluções podem envolver softwares, barreira ou grandes obras de engenharia, mas acima de tudo, colocam em prática a engenhosidade e a resiliência dos gestores públicos, da iniciativa privada e da academia, que se unem para um bem comum e social. Para as cidades brasileiras que padecem todos os anos com as enchentes, fica a reflexão essencial: toda iniciativa que envolve os múltiplos agentes do poder público e da sociedade organizada tem mais chances de prosperar e gerar frutos do que as soluções-tampão provisórias…

Beto Marcelino. Sócio fundador e diretor de relações governamentais do iCities, empresa de soluções para cidades inteligentes que organiza o Smart City Expo Curitiba.

Matéria da revista AETEC 34º edição.

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