Entrevista com a Presidente do CAU/SP, Catherine Otondo
Cada vez mais as mulheres estão presentes em altos cargos executivos, chegando, hoje em dia, à presidência em várias empresas de destaque no Brasil. Um exemplo é da Arquiteta e Urbanista Catherine Otondo, que está dirigindo o CAU – Conselho de Arquitetura e Urbanismo, muito qualificada para o cargo, como você vê ao lado, pelo currículo dela. Mas não é só isso que surpreende, na entrevista vocês vão ver que 156 mulheres participam com ela, entre conselheiras titulares e suplentes.
Qual a visão que o CAU-SP possui da nossa profissão (Arquitetura) nesse período de pandemia? Como a mesma está conseguindo caminhar e as principais mudanças nesse novo cenário.
Os arquitetos e urbanistas têm uma compreensão do espaço bastante ampla e, por isso, nestes tempos de pandemia, podemos trabalhar para melhorar e compreender melhor a cidade _ uma cidade mais equilibrada e menos desigual e, portanto, mais saudável, _ e também compreender que os espaços da casa precisam ser bem construídos, bem iluminados e bem ventilados, não só em tempos de pandemia. Mas os tempos de pandemia permitiram a muitos de nós vermos que as nossas casas precisam ser bem projetadas, bem desenhadas, e isto é função do arquiteto e urbanista. O CAU, neste sentido, valoriza e faz chegar a mensagem da especificidade e das particularidades da nossa profissão.
Como o CAU-SP tem colaborado com os novos profissionais que estão entrando no mercado?
O CAU, hoje, está distante dos jovens profissionais.
Nós ainda temos muito a aprender com as necessidades dos jovens. Isto porque o mercado está em constante transformação. Existem muitas novas possibilidades de trabalho que se abrem para os arquitetos, não somente no campo da construção e do projeto de edificações, mas dentro de projetos de ARIMA (sigla em Inglês para modelo “autorregressivo integrado de médias móveis”), no apoio de prefeituras para fazer os seus planos diretores, e também ajudando os outros profissionais com os seus trabalhos. O que o CAU tem feito, por enquanto, é conhecer esses arquitetos, saber suas demandas, entender como e onde querem trabalhar.
CURRÍCULO: Graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (1993). Iniciou seus estudos na École D`Architecture Paris la Seine (1987). Em 2013 obteve o título de Doutora pela FAUUSP, com a tese “Pensar e Fazer: desenho e espaço construído na obra de Paulo Mendes da Rocha”. Foi professora na disciplina de Projeto nos anos 2015-2107 no IAU-USP em São Carlos.
Desde 2017, leciona Projeto na Universidade Presbiteriana Mackenzie. É sócia do escritório de arquitetura Base Urbana com Marina Grinover,
com projetos para áreas de urbanização de áreas precárias da cidade, e nas diversas escalas do desenho. Recebeu em 2014 o Prêmio Melhor Urbanidade da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo projeto de reurbanização da Favela do Sapé em SP.
Em 2017 foi curadora do Seminário: “Onde estão as mulheres arquiteta?” em parceria de fomento entre o CAU/SP e o Centro Cultural São Paulo.
Como o CAU-SP tem se posicionado sobre a possibilidade do ensino de Arquitetura pela modalidade de EAD? Sendo que, já consta na internet, a oferta do curso por algumas Instituições de Ensino.
O CAU entende que o ensino à distância não é uma modalidade, é uma ferramenta. Você ter aulas ‘online’ é uma das ferramentas do ensino, mas não é a única. Neste sentido, nós estamos organizando uma ampla campanha para valorizar as escolas de Arquitetura, auxiliando os pretendentes a ingressar nestes cursos a entender o que faz um curso de Arquitetura ser bom ou não. Estar preparado para enfrentar as complexidades de nosso presente, da nossa contemporaneidade, isto não tem nada a ver com ser EAD ou não. O CAU está fazendo uma campanha neste momento dentro do Estado, mas iremos ampliar para que os jovens possam entender o que faz um arquiteto, um urbanista, um paisagista, e quais são as dimensões do seu trabalho, mais
do que ficar discutindo a ferramenta de ensino.
O que o CAU-SP espera do UIA 2021 e como será a sua participação?
A UIA é um congresso muito importante. Infelizmente, por conta da pandemia, não pode ser presencial. Imaginem nós recebermos este congresso internacional, no Rio de Janeiro, e estarmos todos juntos. De fato, seria uma grande oportunidade, mas de qualquer maneira, a organização do evento foi bastante competente e eficaz
em organizar este evento de modo online. Podemos, então, ter acesso à grande maioria das palestras. O que a UIA faz para todos nós é colocar uma agenda _ uma pauta _ na mesa, é colocar questões para frente. Para aonde vamos?
O que queremos fazer neste planeta? Como nós, arquitetos e urbanistas, podemos participar desta agenda? Mais do trazer soluções ou inovações tecnológicas, ou ser um ‘show’ de arquitetos, a UIA coloca uma agenda na mesa: “Diversidade e Mistura”, “Mudanças e Emergência”, “Fragilidades e Desigualdades” e “Transitoriedade e Fluxos”.
Como está sendo ser a primeira presidente mulher
da história do CAU-SP?
Essa experiência de ser presidente do CAU, acho que não é solitária: eu fui eleita conjuntamente com 156 mulheres [entre conselheiras titulares e suplentes]. Então, antes de mais nada é uma experiência coletiva. Nós estamos trabalhando juntas num projeto que é coletivo, de todos os conselheiros que foram eleitos, não somente da chapa [de mulheres], mas de todo um conselho, e eu sinto que essa possibilidade de fazer uma gestão mais focada num pensamento horizontal, num pensamento de partilhar ideias, de construir um projeto, isso é inovador, e eu acho que isso as mulheres têm uma capacidade e uma possibilidade de fazer. Em nosso caso, o protagonismo de uma interessa menos do que o protagonismo do projeto que nós trouxemos para o CAU São Paulo.