SALÃO INTERNACIONAL DO MÓVEL DE MILÃO (ISALONI)

A primeira edição do Salão Internacional do Móvel de Milão ocorreu em 1961 com o intuito de difundir a exportação italiana no segmento de mobiliário. O tempo passou e o Salão é hoje a maior feira no segmento de design e de móveis do mundo. Em sua 59ª edição em 2020, contará, como já vem ocorrendo em edições anteriores, com a união, no imenso pavilhão do evento a exibição simultânea de: EuroCucina (Salão Internacio- nal da Cozinha), Salone Bagno (Salão Internacional do Banheiro) e Salone Satellite (dedicados aos novos de- signers), atraindo os olhos atentos dos influenciadores e designers de diversos setores. Falando um pouco sobre a edição deste ano, que aconteceu em abril último, em números, o Salão contou com 2.418 expositores – dos quais cerca de 34% são estrangeiros – e 550 designers de até 35 anos no Salão Satélite. E recebeu 386.236 visitantes. O Brasil levou 30 profissionais e empresas para expor em Milão, concentrados em uma exposição chamada de Brazil: Essentially Diverse, com uma narrativa para amarrar as obras em um contexto único, onde o visitante percebia tons, cores, sons e sensações da natureza brasileira por onde as peças, em sua maioria mobiliário autoral estavam distribuídos nos 2 mil metros quadrados do Museu dela Permanente. Nomes como Rodrigo Karam, Roque Frizzo e Brunno Jahara mostraram a que foram. De talento já eternizados, os irmãos Humberto e Fernando Campana apresentaram, para a Louis Vuitton Objets Nomades a poltrona Bulbo. Delicadas pétalas em couro constroem a peça ultra exclusiva. Muito além dos pavilhões da Fiera Milano Rho, onde a feira acontece, os eventos, exposições e instalações se espalham por toda Milão durante uma semana inteira, conhecida como semana do design, deixando a cidade com um astral único onde instalações de arte, design e arquitetura são vistas nas ruas, em palacetes e edificações históricas que são locadas para, nesses dias, abrigar eventos e exposições e também nos endereços de marcas tradicionais que estão em Milão e que nesses dias realizam eventos e festas para lançar seus produtos e deixar suas marcas. Para quem nunca foi ao evento, os principais bairros para visitar são: Brera, Tortona e Ventura Lambrate. Entre os 3 o Brera tem se tornado um dos mais importantes. Tortona que antes era um bairro de jovens designers e de coisas mais experimentais cresceu e hoje tem mais marcas expressivas. Ventura Lambrate está virando hoje o que foi a Tortona, com alugueis mais baratos, tem mais estudantes e novos designers em seus ateliês e estúdios. Para falarmos em principais tendências desta edição passada, posso apontar algumas, embora a leitura da arte seja tão pessoal e peculiar de cada um, destaco o que vi como especial: Sustentabilidade; Nascido em uma região que sofre bastante com as mudanças climáticas, o arquiteto Jefrey Dela Cruz desenvolveu um sistema de construção de casas usando bambu para evitar que os interiores sejam prejudicados pelas enchentes. Os módulos são resistentes aos terremotos e às enchentes de até cinco metros de altura. Os interiores, por sua vez, foram projetados com a ideia modular de “tiny houses”: tudo é componível e encaixável para otimizar o espaço. A invenção é passível de produção em massa e de fácil montagem. Tecnologia: Uma instalação muito marcante foi a da Sony, imersiva, a proposta era conectar humanos a robôs através da identificação dos sentimentos e emoções. Pequenas esferas coloridas distribuídas no espaço interagiam se aproximando ou se distanciando das pessoas, e trocando de cor, de acordo com a percepção dos sentimentos emanados pelas pessoas. Nesse viés do design aliado à robótica e a inteligência artificial com o propósito de ampliar o bem viver e a convivência.
Design e Sensações: Outra instalação de destaque foi construída nos túneis dos armazéns históricos que ficam sob a estação de trem central de Milão: uma passagem triangular de 25 metros de comprimento e 6 metros de altura. Todas as superfícies da instalação foram revestidas em um material sintético à base de minerais cha- mado Dekton, fabricado pela espanhola Consentino. O material, revolucionário ao substituir mármores e granitos por ser resistente a abrasão, cortes e calor, ganhou um novo olhar na proposta entre a arquitetura, a luz e a água que ajudou a refletir o conjunto com ondulações projetadas nas superfícies que criavam a sensação de infinito e de estarmos submersos.
Destaque também para o SeaStone, produzido à partir de conchas e frutos do mar descartados pela indústria de alimentos que nas mãos de Hyein Choi e Jihee Moon viram placas de revestimento de superfícies de extremo desempenho e resistência. Ou mesmo as lindas linhas orgânicas na marcenaria de Ross Lovergrove para a Natuzzi, que usa fibras orgânicas e madeira sustentável para a produção. Hoje, com a facilidade das conexões podemos acompanhar e ter acesso à toda a informação do que è lançado lá em nosso celular, por vezes, em tempo real. As obras não são apenas estéticas, mas cada vez mais comprometidas em produções de equilíbrio ao meio ambiente e preocupadas em melhorar a qualidade de vida das pessoas com o belo, e porque não. Apesar do cunho artístico, convido também os mais técnicos a pesquisarem e conhecerem o que o mundo separa de melhor para mostrar no Salão, para que tendências sejam transformadoras de vidas, afinal, nosso papel com a sociedade é construir espaços vivos, éticos e nada mal se também forem de muito bom gosto!

Mariana Meneghisso é Arquiteta e Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e Design de Interiores pela Escola Panamericana de Arte de São Paulo. Titular, há 13 anos, do escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.

Matéria da revista AETEC nº24 edição.

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