MUDANÇAS NA CIDADE DE SÃO PAULO: AGRAVAMENTO OU BENEFÍCIO?

UMA CRÔNICA PARA MOMENTO DE TRANSIÇÃO URBANA E ESTUDO DE OUTRAS CIDADES.

Atualmente temos acompanhado de perto a revisão do Plano Diretor Estratégico na cidade de São Paulo, assunto complexo e polêmico, não agrada e nunca agradou 100% da população.

Os efeitos destas mudanças serão vistos adiante, mediante desenvolvimento dos empreendimentos novos e definição dos zoneamentos.

Pouco temos de banco de dados, estudos aplicáveis e estatísticas para os efeitos vindouros.

No site da prefeitura há todo o material produzido até agora, atas, mapas, etc a ser consultado pelo interessado. Um avanço no sentido de transparência e governança municipal.

Abaixo, vamos ilustrar o que ouvimos nas ruas e conversas pontuais:

A moradora do bairro da zona sul diz não entender o por quê ter tantas casas na vizinhança para vender. Não sabe ser falta de segurança ou algo interessante para deixar o bairro. Sempre morou lá e não vai sair.

Noutro bairro da zona oeste, o valor do terreno subiu com a expectativa de conclusão do monotrilho, prometido para a Copa do Mundo de 2014! A vizinhança diz poder subir prédios perto da futura estação e colocou tudo a venda na esperança de conseguir um bom valor.

Os moradores da zona sul querem mais segurança onde moram. Ninguém sai durante a noite. Dizem ter o pior transporte coletivo. Preferem a van clandestina do que ônibus e trem.

A administradora no mercado diz não querer atender unidades habitacionais. – Dá muito trabalho! Diz querer ficar com as unidades da fachada ativa, viver da renda mensal e percentual sobre as vendas do inquilino.

O incorporador diz ter cerca de 18 terrenos com projetos em aprovação, não vai pedir aos arquitetos como ficarão os empreendimentos depois da revisão do Plano Diretor. Quer uma avaliação de impacto para cada um deles.

O outro incorporador diz aceitar carro usado como sinal ou parte do pagamento das parcelas. Os corretores estão felizes e o estoque tem chance de desovar.

A varejista decidiu sair do shopping, parece ter cansado de pagar o aluguel e o condomínio. Vai para endereço nobre, mesmo que tenha que investir na segurança, reforma e regularização do imóvel de terceiros.

Um herdeiro pergunta para a dona da pastelaria da feira de rua: vão mudar o endereço da feira? Quando vai começar a obra do condomínio de casas dos ricaços daqui?

Mãe e filha vão caminhar no bairro, decidem entrar num stand de vendas de studio. Soa bem! Decorado lindo! Bem confortável. Tem até jardim privativo e cobertura lazer com vista para o rio. Perto da residência da família. A filha pergunta para mãe se ela moraria. A mãe diz preferir ficar com o quarto dela junto da família. A corretora não consegue alcançar a meta do mês.

Enquanto isso, um paredão de grandes prédios novos se forma no alinhamento das avenidas de contorno do bairro estritamente residencial com tombamento do bem aderente: as árvores nativas quase centenárias relacionadas por decreto municipal e ruas com pedras sem asfalto. O comércio e serviço local batem palmas porque o faturamento aumentou. O trânsito piorou e há mais carros estacionados na rua, o sinistro de veículos também aumentou. Começou a ter assalto nas ruas da região. Os moradores perdem o silêncio e parte do sol em suas casas. Poucos participam da reunião da associação do bairro. Quem participa diz não ser ouvido.

Há prédios altos e contínuos que ocupam quase a extensão da quadra inteira, entre 80 a 100m.

O político diz ter atendido às solicitações gerais da sociedade e entidades de classes!

A oposição diz não ter sido ouvida e atendida! A participação nas redes sociais é bem diferente do perfil de participação presencial nas reuniões públicas.

Parte da sociedade questiona o plebiscito e a democracia.
Aguarda o prefeito assinar a versão final, depois de exercer o poder de veto.

O construtor diz ter que fazer permuta com um sócio para terminar a obra. Precisa de 20% do valor total, senão vai quebrar.

O fundo imobiliário diz emitir subscrição porque precisa de 500 milhões em novos ativos para entregar um dividendo de 1,30% ao mês. O cotista vai entrar na subscrição.

O investidor diz postergar algumas despesas, pois a renda fixa está pagando bem e não vai desembolsar nada neste momento. Adia investimento enquanto a taxa de juros estiver perto dos 13,50%.

O consumidor diz ser alto o valor do alimento e da gasolina.
Tem ido de bicicleta ao trabalho e levado marmita.

O aposentado, ah este fica feliz com o adiantamento dos 50% do 13º salário e logo vai jogar na loteria.

Os acadêmicos e urbanistas dizem que a revisão nesta linha do Plano Diretor vai agravar as questões como mobilidade, segurança e meio ambiente entre outros assuntos.

O centro da cidade: ninguém quer ir mais lá. Falam ser inseguro e cheio de assaltos. Mesmo assim há eventos musicais cujo valor atingem tranquilamente o valor acima de 2 mil reais por ingresso do show. Isto demonstra a desigualdade de renda ou a função geográfica e política do centro da cidade não existe mais? Como viabilizar o retrofit dos edifícios icônicos com moradia e atividades simbióticas no pós-pandemia???

Vemos mais pessoas e famílias em situação de vulnerabilidade sócio-econômica em várias regiões antes nunca vistos. Antes de resolver a tal moradia popular nas propostas governamentais, terão que resolver toda uma estrutura de saúde física e mental para depois resolver a renda desta população bem lá adiante, se for o caso. Porém há de se mudar a estrutura transitória do atendimento público. Qual seria a solução governamental? Falta comida e moradia regular para esta parte da população.

O incentivo para a população adquirir a sonhada moradia, passa por revisões até caber no bolso do brasileiro, mesmo que fique com metragem mínima questionável.

A zona leste ganha o edifício mais alto da cidade!

O engenheiro está mais preocupado se há alguma região onde possa se valorizar mais e ter mais obras para tocar.

O arquiteto diz aguardar para seguir com os projetos até a aprovação. Vai esperar.

Uma herdeira da zona norte diz não saber o que fazer com todos os imóveis que o pai deixou.

Museus e ginásios de esportes aguardam investimentos e gestão público-privado. Enquanto isso, operam com o mínimo necessário via universidade pública.

Até agora não há resposta para alguns assuntos e soluções urbanísticas.

Há complexidade e posicionamento diferentes e adversos na ocupação da cidade e suas atividades.

Pelo visto Deus não é e nunca foi urbanista e nem legislador.
É um Ser perfeito demais para viver no mundo dos mortais

Todos estes agentes da sociedade e situações ilustrados acima não representam a realidade e opinião da APROVA SÃO PAULO sobre o assunto Revisão do Plano Diretor. Quer saber o impacto no seu endereço e empreendimento? Entre em contato conosco: contato@aprovasp.com.br ou 11-98866-5845.

Liris Fujimori. Arquiteta urbanista Co-fundadora da Aprova São Paulo

Matéria da revista AETEC nº49 edição.

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