Feira Maison & Objet em Paris

Mês passado visitei a Maison & Objet, feira francesa, sediada em Paris, que reúne perto de 2000 fornecedores do mundo todo, metade deles, franceses. Ela promove tendências e faz parte do circuito Paris Design Week, que aconteceu de 9 a 17 de setembro último. A exposição é grande e dividida por setores como decoração, design assinado, residencial, corporativo, ao todo, ocupando 7 pavilhões expositivos.

Dentro da arquitetura e do design de mobiliário, ao buscar o que podemos identificar como tendência, como conceitos valiosos do home decor, além do que se manteve dos dois anos anteriores, ainda muito ligados à retomada do consumo para cuidar melhor de si e de seu abrigo (no sentido mais elementar da palavra), subproduto do pesadelo pandêmico.

Fiquei muito feliz em encontrar novos perfis, coloridos, intensos e de proporções exageradas como se o novo caminho agora seja de celebrar e renovar “exagerando” um pouquinho, e com muito bom gosto. A mensagem resumida do que está por vir é: acolhemos por muito tempo, agora, vamos deixar fluir e viver a alegria do Reviver.

Na prática:
Exuberância de cores e suas misturas super intensas, composês de sobretons e degradês em todas as abas do leque Pantone, sim… todas. Alaranjados e azuis intensos, vermelhos. Hora pontuados em detalhes, outras vezes, aplicado em toda a
composição, criando um conceito monocromático do ambiente, riquíssimo de energia e vibração.

As composições se entremearam com muita madeira, e também peças metálicas em tons ouro e prata.

Formas orgânicas arrojadas que remetem à decor da década de 20 em uma releitura robusta, e de linhas simplificadas, quase essenciais: trabalho riquíssimo e encantador. Ao lado disso, vi o contraponto: nos neutros e propostas naturais do “chic farm”. A naturalidade para o extremo conforto ficam ainda como uma tendência, muito por termos resignificado o que representa as sensações que um ambiente precisa nos permitir sentir com o isolamento social.

Ainda assim, o novo e exótico marcam essa proposta de
intensidade que vem em ótima hora.

Hand made: tecidos pintados à mão estão nas roupas de cama e mesa, nas paredes e nas tapeçarias. Sisal no mobiliário, cúpulas e gravuras. Os franceses são milenares em pinturas de tecido para decoração, não podia ser mais especial olhar de perto, trazer no repertório a riqueza da delicadeza, numa grande mistura de temas, com muito talento.

Conexão com o natural: Muito além do animal print, que seguem firmes, aliás, o apego mais recente que vivemos com nossa casa permanece, valorizando o natural: no toque dos tecidos, no aconchego, nas madeiras sensoriais de veios aparentes e rusticidade, decapês coloridos e pátinas. Biofilia, não podia ser diferente. O foco está em transmitir conforto.

Iluminação: A Europa já percebeu o quanto a iluminação assertiva representa saúde, não somente produtividade. O equilíbrio do nosso organismo em relação ao ciclo circadiano, a qualidade luminotécnica para permitir repouso, sono, trabalho e lazer
de qualidade. Eles arrasam, temos que prestar atenção nisso.

Revestimentos: Pelúcias, pelúcias e pelúcias recobrindo sofás, cabeceiras e tapetes. Vai funcionar no Brasil? Sim, com a composição certa, será sucesso. Além disso, muito de pedras e cristais nas paredes e acessórios, mas comedido e delicado.

Sustentabilidade: com a escassez de matéria prima, agravada pela guerra, muito se aplicou de um viés de materiais alternativos abundantes como alumínio, fibras naturais, madeira de reflorestamento. Reciclagem como tecidos a partir de sobras de fios da indústria de moda e sapatos usados.

Tecnologia: Além do Palais Exotic, projetado por Cristina Celestino, arquiteta italiana, eleita designer do ano na feira, que propunha uma mistura de elementos do mundo físico e do digital numa releitura Art Déco digital, se posso conceituar assim. Muito
do calendário de palestras da feira estava em talks sobre realidade virtual, criatividade digital e projetos no metaverso e o futuro, que, aliás, vira presente em um piscar de olhos e temos que estar atualizados como profissionais desenhistas do espaço.

Meu sócio e eu aproveitamos a ida à França para fazer um laboratório visitando empreendimentos residenciais no interior da França com conceitos importantes de térreo livre, áreas comuns de uso misto e materiais alternativos para construção.
Além disso, visitamos edifícios contemporâneos icônicos como a recém inaugurada Fundação Louis Vuitton do escritório de Frank Gehry e La Cité du Vin, do escritório XTU. Viajar para um evento distante como esse requer, além do investimento financeiro, programação e disponibilidade.

Não é fácil deixar a agenda do escritório. No entanto, é um grande investimento no seu repertório criativo ao ganhar uma visão ampla dos produtos em si, da atuação de outros profissionais e aguça seu desempenho, vale muito!

Mariana Meneghisso. Arq. Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes.
Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf. Titular, há 16 anos, do escritório
Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.
www.pasquottoarquitetura.com.br

Matéria da revista AETEC, 44º edição.

Revista online

Boa leitura!