Cultura do “Just Do It”
Parafraseando um slogan de uma das maiores marcas de produtos esportivos que, inclusive foi eleito o melhor slogan do século 20, o qual sugere que de posse de um de seus produtos é só realizar o que quer, e simplesmente “faça” e desfrute do sucesso, neste artigo vamos procurar desmistificar este slogan quando o assunto é projetos.
Ainda antes de entrarmos no tema em si, saibam que esta frase foi baseada num desabafo de um assassino em série condenado à morte nos EUA! Pois bem, ele disse “Let’s do it” (Vamos fazer isso!) quando lhe perguntaram se ele gostaria de dizer algum pensamento final e, em seguida, foi fuzilado. Assim os idealizadores de uma nova campanha da marca tomaram e adaptaram a frase que se tornou um sucesso até hoje.
Voltando ao tema! Muitos artigos e tempo destinados ao ensino dos conceitos e práticas na área de gerenciamento de projetos tratam de uma série de habilidades, técnicas e ferramentas que podem ser utilizadas para que os projetos possam alcançar seus objetivos e serem considerados um sucesso, correto? Muitos já devem estar cansados de ler a respeito disso. Já virou um clichê!
Países considerados desenvolvidos têm uma característica em comum que os levam a alcançar o sucesso. Que é a cultura local! No que diz respeito à gestão de projetos, estes países, com certeza, não praticam o “Just Do It”, eles passam pelas fases de iniciação e planejamento de forma disciplinada e sistêmica, apoiados é claro, por profissionais bem qualificados e ferramentas apropriadas. Por outro lado, países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, sofrem com esta
questão, principalmente aqueles onde a cultura pende mais para o lado emocional como os países latinos, por exemplo. Muitos projetos são simplesmente idealizados sem um estudo detalhado de viabilização, sem critérios de aprovação ou priorização. Depois, são simplesmente “tocados” na melhor concepção do “Just Do It”, ou seja, simplesmente “toca aí!”.
A partir daí, temos um cenário onde uma série de ações são tomadas sem muita correlação e vai-se resolvendo os problemas à medida que eles vão aparecendo com pessoas correndo para todos os lados apagando focos de incêndios todos os dias.
Muitos projetos são simplesmente idealizados sem um estudo detalhado de viabilização, sem critérios de aprovação ou priorização.
Depois, são simplesmente “tocados”
Claro, que este cenário não está presente em 100% dos projetos existentes, muitas organizações consideradas de ponta têm sua metodologia e processos bem definidos e estimulam seus colaboradores a utilizarem, e é claro também, que existem muitos projetos realizados com sucesso, principalmente nestas organizações. Mas, tenho visto dentro da maioria das empresas que o fator cultural predominante no Brasil ainda existe e, muitos profissionais ditos como gestores,
ainda não se utilizam dos processos e fluxos estabelecidos, ou quando muito, os utilizam em parte, ou seja, ainda praticam o “Just Do It”!
Este artigo é um pouco polêmico por abordar questões culturais e, pode gerar algum incômodo naqueles que o lerem, mas vale a pena promover uma discussão e por que não uma reflexão sobre o tema. O Brasil precisa de mais profissionalismo para crescer!
Concluindo, a cultura do “Just Do It” não deve fazer parte de uma empresa ou país que queiram crescer e serem reconhecidos como competentes e sérios. Planejar e monitorar um projeto dá muito trabalho, mas é o único caminho para se mitigar os riscos de um projeto, alcançar o sucesso e ganhar maturidade.
Rogério Sagliocco. Tecnólogo em Mecânica com especialização em Processos de Soldagem pela Unesp, pós graduado em Gerenciamento de Projetos pela Escola Politécnica-USP.
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