CASACOR/2022

Estava ansiosa em visitar a CASACOR deste ano. Depois de várias edições no Jóquei, a última ocupou um trecho do estádio do Palmeiras e, talvez pelo clima ainda pandêmico, não me cativou. Que lindo ver a exposição no Conjunto Nacional, a saudade das versões anteriores, deixei para trás.

Com 59 ambientes que ocupam o mezanino e o terraço aberto na cobertura, são 10 mil metros quadrados do edifício modernista que acomodaram a mostra com muita propriedade. A direção de curadoria é da talentosa Livia Pedreira.

Esta edição também pode ser “visitada”, como no ano passado, através do Tour 3D no site www.tours-casacor.com. A novidade este ano é o aplicativo, que promete uma imersão no universo CASACOR. Baixei, e gostei muito, com fotos perfeitas e um breve sumário de cada trabalho.

Na chegada, pelas rampas caracol que percorrem o edifício, passamos pela exposição em homenagem aos 35 anos da mostra, uma retrospectiva das últimas décadas da arquitetura e do design de interiores brasileiros, e também uma exposição do fotógrafo Fran Parente com imagens inusitadas das estruturas do Conjunto Nacional e ainda um vídeo, em timelapse, que mostra como a CASACOR, uma mesa touch, com conteúdos sobre todas as edições. E ainda, caixas de som espalhadas, contando casos curiosos na voz de Baba Vaccaro.

A obra de implantação, orgulhosamente, e infelizmente longe da realidade das construções e reformas no Brasil, compensou 100% de compensação para suas emissões de carbono, ganhou certificação “Lixo Zero”, reaproveitou 99,3% dos resíduos, economia e reutilização de recursos hídricos, economia de energia, coleta seletiva, programa de reciclagem e destino adequado para resíduos, promove a economia circular, e realizará doações de materiais de construção resultantes do desmonte do evento para ONGs.

Tão especial quanto, a mostra, em parceria com a Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida (Seped) aplica os conceitos e as normas técnicas relacionados ao tema aos profissionais e toda a mostra é acessível, também com mapa tátil em braile, trajetos de piso tátil, aplicativo de tradução em libras em tempo real – desenvolvido pela Associação dos Amigos Metroviários dos Excepcionais e visitas guiadas especialmente preparadas.

Dos meus ambientes favoritos, começo pelo trabalho encantador da Marina Linhares, no loft que ela chamou de “Um jeito novo do mesmo jeito”. Cores e texturas de conforto, moraria lá. O painel planta baixa, com gabaritos da mobília em madeira, me fez voltar no tempo.

O espaço da arquiteta Flavia Burin: Café, Prosa e Poesia, tons suaves, uma calmaria deliciosa e elegante, e o painel de azulejos, pintados à mão, pela Colormix, especial demais.

O sertão, no espaço da Portinari do Nildo José, aliás, é a terceira edição da Casa Cor onde o trabalho dele, na minha opinião, é de excelência: identidade, bom gosto e inovação. O loft deste ano trás as luzes que te remetem ao mar, dentro de um espaço que remete à aridez do deserto do cangaço. Espetáculo.

E a inusitada e deliciosa Casa Coral, do arquiteto Marcelo Salum em reverência aos dois designers têxteis, Attilio Baschera e Gregório Kramer, que redefiniram a estamparia nacional criando tipologias e desenhos baseados na brasilidade na década de 70. O ambiente é colorido, alegre, convidativo e suntuoso. A escolha da paleta, uma escola a parte. E ainda pontuado de objetos que eu queria “roubar pra mim”, alguns, são acervo pessoal da dupla homenageada. Vale olhar com carinho.

Nomes consagrados como Roberto Migotto, arquiteto convidado desenhou o espaço para a Deca, um elegante Hyatt, o Maurício Arruda, sempre lembrado e querido pelo
GNT Decora, da Todos Arquitetura, para o espaço da Duratex e outros tantos mais.

Sobre tendências…
Permanecem as propostas de revestimentos naturais como pedras, linhos, algodão. Com paletas neutras e naturais. Retorno da aplicação de granitos escovados e polidos.

Aberturas e portas em arco. Paredes com texturas rústicas e ainda os azulejos numa identidade brasileira.

Iluminação intimista, quente e focada. Destaque para os varais em cordões de led.

Mobília orgânica, uso de portas e fechamentos e design em metal. Com design leve e slim.

Revestimentos predominantemente mates e satins. Design biofísico, marcante, e quase sempre, tropical.

Aromatização de ambiente presentes em praticamente todos os ambientes da mostra.

As obras de arte transitem personalidade e remetem a
transmitir familiaridade e afeto.

Tecidos e estofados com ergonomia mais baixa, num
desenho de conforto e muito propício em soluções de ambientes
menores. Muito couro e pelica.

Corre lá? Seja arquiteto, design, engenheiro, tecnólogo, vá! Uma mostra como essa, em um edifício histórico nos ensina não apenas sobre tendências ou design, mas sobre
implantação.

Soluções, viabilidade. Olhe os detalhes, e como tudo se orquestrou para convergir no que se apresenta. A gente aprende sempre! Bom passeio, e ótimo aprendizado!

Mariana Meneghisso. Arq. Urbanista pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo e Design de Interiores pela Escola Panamericana de Artes.
Pós Graduada em Responsabilidade Civil pela Fecaf. Titular, há 16 anos, do escritório
Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.
www.pasquottoarquitetura.com.br

Matéria da revista AETEC, 43º edição.

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