DEBATE PROMOVIDO PELO CAU-SP “ MULHERES NA ARQUITETURA”

No segundo ano consecutivo, o Cau SP realizou o encontro de profissionais arquitetas urbanistas para comemorar o dia internacional da mulher, e, pela primeira vez, eu aceitei o convite, fui participar e saí do evento com a feliz sensação de que devíamos construir encontros como esses muitas vezes ao longo do ano. Foi uma tarde de conhecimento, tiveram a voz dezenas de profissionais, com experiências e formações ímpares, que, por alguns minutos apresentavam seu currículo e sua experiência profissional, daquele jeito bom, como uma conversa de amigas, mesclando na narrativa de uma projeto importante o nascimento do filho, ou, o ocupar uma cadeira de docência sonhada à um noivado. Conversa de mulher, e foram histórias especiais. Números estatísticos sempre norteiam um diálogo, então, podem não ser os ideais, mas estamos no caminho para algo melhor: 67% dos arquitetos urbanistas no Brasil, são mulheres, que sorte tem o Brasil. Atualmente, dentro dos cargos de gerência no Cau SP, metade das cadeiras são ocupadas por mulheres. Houveram os números não tão bons, sim. Mas hoje, só hoje, vou me permitir não escrever sobre eles. A questão do gênero em arquitetura possui dois apelos de mudança de postura que foram fortemente repetidos na conversa: o direito à cidade e a dimensão do trabalho feminino profissional. A sororidade é um processo de construção coletivo que precisa caminhar ao diálogo além das batalhas que foram e são constantemente travadas. É no diálogo, na troca de vivências, que poderemos transformar os canais de conexão e garantir que desempenho e competência estejam além dos rasos pré-conceitos de gênero que muitos ainda utilizam, erroneamente, estar selecionando ou qualificando. Falou-se em intensificar o movimento em agregar arquitetura e engenharia, cada profissional com suas funções claramente definidas e complementares, como uma ponte de vínculos favoráveis à consolidação de ambos os setores. Foi também consenso comum a necessidade de implementação das divulgações do Cau para, no marketing, direcionar campanhas voltadas ao público leigo, explanando sobre as competências, áreas de atuação e formatos de contratação para arquitetura, e a necessidade urgente de expandir o trabalho de assessoria técnica em todas as áreas. Embora abordados embates polêmicos, o que se perpetuou no encontro foram exemplos de profissionais extremamente qualificadas e detentoras de reconhecimento em suas carreiras, nos diversos setores da arquitetura e do urbanismo: Heloísa Pomaro, especialista em Steel Frame, Luciana Schenk, especialista em paisagismo, Miriam Addor, especialista brasileira em BIN; para citar algumas. Hoje se fala sobre empoderamento feminino na mídia, quase sempre com um viés de incomodação masculina pelo espaço da mulher no mercado de trabalho, ou outras, com o viés da busca pela igualdade entre homens e mulheres em bandeiras nas mãos femininas em detrimento da competência masculina de desempenho nesse mesmo mercado.

Um conflito permanente, existencial, quando a base silenciosa do tumor é cultural e profundamente arraigada. Desta forma, é de suma importância compreender o papel transformador que mulheres de expressão, sejam elas arquitetas, engenheiras, tecnólogas, tem conseguido agregar a essas áreas. Ainda é necessário se impor, porque a maturidade em um meio conservador e masculino ainda se faz necessária, mas, ao entender o brilhante currículo que temos das mulheres, entendo ser esse o meio de imposição mais expressivo e de melhor valia em todos os aspectos e é para esse rumo que devemos caminhar. Somar conhecimentos e domínios para gerar influências benéficas ao rumo da arquitetura, seja em sua carteira de clientes, em seu círculo social, cidade ou para o mundo.
O melhor papel è transferir e expor conhecimento. O papel feminino na arquitetura é estrutural, representa a síntese do projeto que é a capacidade da interdisciplinaridade e desempenho estético aliado ao funcional. As mulheres têm essa natureza, então, em suas empreitas e demandas, aplicar o que nos é essencial como seres humanos é uma tendência nata, o que produz um expressivo trabalho nessa área.
Domínio do conhecimento e a especialização somados a isso, nos tornam profissionais com uma capacidade de realização e transformação importante, deixando um legado de bons trabalhos que irá permitir a evolução reconhecida cada vez mais ampla e permanente do gênero no setor, tenho certeza.

Mariana Meneghisso F. Pasquotto. (Arquiteta Urbanista formada pela
Faculdade de Belas Artes de São Paulo, e Design de Interiores formada
pela Escola Panamericana de Artes de São Paulo. Titular, hà 13 anos, no
escritório Meneghisso e Pasquotto Arquitetura.) Associada da AETEC.

Matéria da revista AETEC nº23 edição.

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