VIVER EM HARMONIA É SAUDÁVEL

Em 1896, um jovem e dinâmico sacerdote, padre Pasquale de Nisco, criou sociedades espirituais e organizou festas. Incentivou pessoas a limpar seus terrenos, plantar cebolas, feijão, batatas, árvores frutíferas. A cidade ganhou vida , cresceu, formaram inúmeros estabelecimentos comerciais e 12 fábricas. Como os vizinhos eram alemães, ingleses, galeses, Roseto tornou-se uma comunidades exclusiva- mente italiana, com seus modos e costumes e idioma italiano.

Um dia, Wolf, médico da Universidade de Medicina de Oklahoma, especialista em doenças do estômago e digestão fez uma palestra nas proximidades e depois um médico local lhe chamou para tomar cerveja. Nesse bate papo, o médico local lhe contou: “Pratico medicina na região há 17 anos, recebo pacientes de todo canto, mas raramente encontro alguém de Roseto com menos de 65 anos que tenha doença cardíaca”. Wolf ficou surpreso porque na década de 1950, antes dos remédios que reduzem colesterol e das medidas de controle, os infartos eram uma epidemia nos EUA, sendo a principal causa de mortes em homens com menos de 65 anos. Wolf decidiu investigar e com apoio da faculdade fez todo tipo de pesquisa. Os resultados foram surpreendentes, quase ninguém com menos de 65 anos teria morrido de infarto ou mostrava problemas do coração. E a taxa de mortalidade de outras doenças também era muito baixa. Úlcera quase não existia. Também não havia alcoolismo, suicídios nem viciados em drogas. O número de crimes era quase zero.

Os pesquisadores ficaram loucos, não conseguiam achar o motivo. Os moradores comiam gordura de porco, salsicha, pepperoni, salame, presunto e doces de maneira farta. E ninguém praticava nenhum tipo de ginástica. Roseto era uma cidade que estava à margem da experiência do dia-a-dia, onde regras normais não se aplicavam. Roseto era um Outlier. Os pesquisadores também viram que a saúde acima da média nada tinha com a genética, nem com o clima ou região, pois cidades próximas tinham o triplo do índice. Chamaram então um sociólogo e alunos de sociologia continuaram nas suas pesquisas. À medida em que começaram a andar pela cidade, conversar com moradores e ver os seus modos de vida, descobriram o motivo. Viram a alegria de viver dos moradores, parando na rua para conversar, cozinhando umas para as outras nos quintais. Clãs sociais mantinham 3 gerações morando sob o mesmo teto com muito respeito aos avós e vivendo harmoniosamente, sem brigas. Foram à igreja e viram 22 organizações cívicas em uma cidade com pouco mais de 2 mil pessoas. Perceberam o espírito igualitário particular da comunidade, que desestimulava os ricos a ostentar o sucesso e ajudava os mal sucedidos a encobrir os seus fracassos. “Ao transplantarem a cultura paesani do sul da Itália para os montes do leste da Pensilvânia, aquelas pessoas criaram uma estrutura social altamente protetora, que era capaz de isolá-las do mundo moderno, altamente competitivo.” Sentavam nas varandas para conversar, 3 gerações unidas nas refeições, todo mundo era amigo, um ajudava o outro, sem soberba. “É preciso ainda aceitar a ideia de que os valores do mundo que habitamos e as pessoas que nos cercam exercem um grande efeito em quem somos e pode deixar a nossa saúde bem melhor” diz Malcolm.

Resumo da ópera, se você levar a vida de forma mais harmoniosa, com tolerância, amor, companheirismo e respeito ao próximo, você terá uma vida muito mais saudável, onde poderá comer suas melhores iguarias, tomar mais cerveja, mais vinho, e tomar menos remédios. Assim, da próxima vez que você tiver vontade de usar a língua, pense duas vezes, feche a boca ou o computador e se socialize.

João Lino é administrador de empresas, marketing e publicidade, formado pela Universidade Católica e ESPM.

Matéria da revista AETEC nº24 edição.