O HOMEM QUE CALCULAVA
A maior parceria entre Arquitetura e Engenharia no Brasil; 2 gênios que revolucionaram nossa história

Em outras oportunidades destacamos que Arquitetura e Engenharia são campos que se entrelaçam para que a construção final se apresente de maneira harmoniosa, aliando estética, funcionalidade e tecnologia. Dessa maneira os espaços trazem a qualidade como fator determinante.

A maior parceria que exemplifica tal definição ocorreu há mais de 80 anos e deixou marcas indeléveis para a história de ambas as áreas, alçando o Brasil como expoente mundial da construção civil.

Um dos nomes foi o de Oscar Niemeyer, arquiteto reverenciado com diversas honrarias e tido como um dos maiores arquitetos do brasil e do mundo de todos os tempos.

Niemeyer fez com que a plasticidade do concreto atingisse seu limite, com formas que extrapolavam o conceito vigente. Porém para tal feito ele contou com a parceria de outro gênio, o engenheiro pernambucano Joaquim Moreira Cardozo, também conhecido como Joaquim Cardozo.

Joaquim Cardozo além de exímio engenheiro era um talentoso poeta, possuindo trabalhos reconhecidos pela academia e reverenciado por grandes nomes de nossa literatura tais como João Cabral de Mello Neto e Carlos Drummond de Andrade.

Uma obra que trata com bastante propriedade o legado de Joaquim Cardozo é “O mito e a ciência na poesia de Joaquim Cardoso” (DANTAS, Maria da Paz, 1985). A obra explica muito bem a forma como a ciência se torna fonte de inspiração para a produção poética do artista/engenheiro.

Além de engenheiro e poeta Joaquim Cardozo também foi cartunista, editor da revista do norte e um grande poliglota, chegando a dominar 15 idiomas. Essa mente inquieta e inventiva fez com que sua engenharia não encontrasse limites contribuindo para cálculos inovadores, um deles a “Escola Rural Alberto Torres” em 1936 no período em que Cardozo ocupava a diretoria de Arquitetura do Estado de Pernambuco.

O grande encontro que faria com que nossa arquitetura ganhasse a reverência mundial ocorreria pouco tempo depois, nos anos 40, quando Joaquim Cardozo ingressa no Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, conhecendo finalmente Oscar Niemeyer.

Oscar Niemeyer sempre reverenciou o intelecto de Joaquim Cardozo, prova detectável nas memórias de Niemeyer. Em “As curvas do tempo” (NIEMEYER, 1998), onde o mestre da arquitetura cita Joaquim Cardozo como a pessoa mais culta que já teve o prazer de conhecer.

A primeira obra em conjunto da dupla ocorre na Igreja da Pampulha em 1943, na cidade de Belo Horizonte.

A partir de então somos agraciados com um dos períodos mais prolíficos de nossa arquitetura e engenharia, com obras como a Catedral de Brasília e o Palácio do Itamaraty.

Joaquim Cardoso sofreu um baque na carreira de engenheiro com a tragédia do desabamento de parte do Palácio das Exposições, no Parque da Gameleira em Belo Horizonte, ocorrido em 1971. Esse acidente ocasionou a morte de 65 pessoas, todos operários da obra.

Após anos de análise se constatou que a falha ocorreu devido descuido da remoção das estruturas de sustentação e não por falha de cálculo de engenharia, porém a imagem de Joaquim Cardozo sofreu um arranhão por um julgamento público desmerecido.

Joaquim Cardozo faleceu em 1978, aos 81 anos, deixando um legado esplêndido e sendo um dos maiores, se não o maior responsável pela concretização da mítica obra deixada por Niemeyer.

Seus cálculos desafiavam as formas ortogonais e provaram que o concreto poderia ser leve e harmônico, tal qual suas poesias.

 A IMPORTÃNCIA DO ENGENHEIRO CALCULISTA

Com essa parceria constatamos que para um grande projeto arquitetônico é vital um engenheiro calculista competente,

comprometido em apresentar tecnicamente a viabilidade para a execução do projeto. Nenhuma construção marcante existe sem a presença desse profissional de excelência.

Alessandro Malara Manso
Arquiteto e Urbanista – www.am2arquitetura.com.br

Matéria da revista AETEC 34º edição.

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