UM ASSUNTO, DOIS PONTOS DE VISTA: ESG NA OPINIÃO DE MAURO CAMPELLO  E ROGÉRIO SAGLIOCCO 

O QUE É NA PRÁTICA ESG

Olá, convido todos a dedicar um tempinho e, por que não, um outro tanto de paciência, para a leitura deste artigo! Sei que ele é longo, mas vale a pena!

Diante de tantas siglas que nos são bombardeadas ao longo de nossa carreira profissional, agora precisamos conhecer mais uma, a tal de ESG! Vou mais além, não só conhecer a sigla, mas entender porquê ela foi criada e qual será o impacto em nossas vidas num futuro próximo.

Existem muitas fontes de informações a respeito deste tema sobre as quais fiz algumas pesquisas e tive algumas conversas no meio em que atuo que é a gestão de projetos e portfólios! Sem mais enrolação vamos ao tema.

O QUE É “ESG”?

ESG é uma sigla que representa três fatores importantes para avaliar o desempenho de uma empresa em termos ambientais (E), sociais (S) e de governança (G). Caso uma determinada empresa atue sobre estes fatores ela será considerada uma empresa responsável e sustentável, tanto em suas práticas como em suas ações.

Vamos destrinchar um pouco mais estas siglas:
O “E” indica que a empresa deve adotar práticas que reduzam os impactos ambientais de suas atividades. Isso pode incluir a adoção de tecnologias limpas, a gestão responsável de resíduos e a redução de recursos naturais.

O “S” indica que a empresa deve adotar práticas que promovam a justiça social e a igualdade, como a adoção de políticas de diversidade e inclusão, a proteção dos direitos dos trabalhadores e a promoção do desenvolvimento das comunidades locais.

O “G”, por sua vez, indica que a empresa deve adotar práticas que garantam a transparência e a responsabilidade em suas operações, e podemos citar como exemplo a adoção de políticas de ética e integridade, pois, há a necessidade de uma separação clara entre os interesses dos acionistas e da administração, associando práticas de gestão de risco.

COMO IMPLEMENTAR?

Como todo projeto que se preze, a implementação da ESG deve começar com a definição dos objetivos de forma clara e realista (objetivos SMART) para cada uma destas três siglas. Deve-se aplicar também uma boa gestão de riscos e oportunidades associadas a estas mesmas três siglas. Focando nessa sequência, fica mais fácil estabelecer quais serão as metas exequíveis que seguiram em frente e, não menos importante, os índices mensuráveis que serão avaliados de tempo em tempo.

Pronto, a partir daí temos um plano estratégico associado a este tipo de projeto, agora faltam transformá-los em ações práticas e é o que chamamos de planos de ação específicos, ou seja, projetos ou programas.

Porém, não adianta iniciar um processo deste sem o aval e o total apoio da alta administração. Só assim haverá um compromisso claro com a adoção dessas práticas por toda estrutura organizacional. Da mesma forma os principais interessados, como investidores, clientes, colaboradores e as comunidades impactadas, devem receber informações claras e transparentes.

Importante entender que a implementação da ESG tem que ser encarada como um processo de melhoria contínua (PDCA) onde se planeja as ações, executa-se, se controla e ajusta-se onde for preciso e parte-se para ação novamente.

QUAL É O PRINCIPAL RISCO?

Assim como já ocorreu no início dos anos 90, com a ISO 9000, a ESG corre o risco de virar um mero modismo com um único foco estratégico de marketing, ou seja, o velho e bom dito popular “Para Inglês Ver”. Porém, vislumbramos que a ESG deve ter um papel mais amplo por tratar justamente de questões de sustentabilidade e responsabilidade social, temas esses tão atuais e que não saem das cabeças das pessoas. Empresas do mercado que são referências nas áreas em que atuam, vão certamente exigir, que sua cadeia de fornecimento sejam estas de produtos ou serviços, se alinhem às suas estratégias e práticas da ESG. Portanto, a ESG tem mais chances de sucesso na sua disseminação e adoção, haja visto que já existem grandes demandas por profissionais que possam atuar nesta área e várias formações profissionais estão surgindo e ainda vão surgir.

A sociedade está se tornando mais consciente da importância da sustentabilidade e das questões sociais, assim a ESG terá mais evidência nas empresas, o que será uma questão de competitividade e relevância no mercado.

Para que a ESG não se torne um mero modismo, é importante que as organizações adotem essas práticas de forma genuína e comprometida uma vez que a sociedade vai estar muito mais atenta a estes movimentos do que foi quando da época da ISO 9000.

E por fim, há uma expectativa de que os governos criem regulações que forcem as organizações a se adequarem a esta nova realidade para poder atuar no nosso mercado, tudo é uma questão de tempo.

CERTIFICAÇÃO

Para aqueles que não sabem, existem renomadas empresas de consultoria espalhadas pelo mundo já certificando organizações em ESG. Estas empresas podem desde ajudar estas organizações a desenvolver e implementar tais práticas, assim como apoiar o monitoramento das ações e práticas para a manutenção da certificação. Elas avaliam o desempenho das ações e práticas adotadas frente aos critérios ESG e concedem ou mantém a certificação de uma empresa ESG. Alguns exemplos de empresas que eu consegui levantar para vocês são:
1. B Corporation (mais próxima e no Chile) – Certifica empresas que atendem aos mais altos padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade legal e ética

2. DNV GL (presente no Brasil) – certifica empresas em várias áreas de sustentabilidade, incluindo energia renovável, gestão de emissão de carbono, cadeia de suprimentos sustentável, entre outras.

3. Sustainalytics (EUA, CAN e Europa) – Fornece análises de sustentabilidade e governança corporativa para ajudar as empresas a entender seu desempenho em relação aos padrões ESG e a melhorar suas práticas.

4. Bureau Veritas (presente no Brasil) – Também certifica empresas em diversas áreas de sustentabilidade incluindo energia renovável, gestão de emissões de carbono, eficiência energética, gestão de resíduos, entre outras.

5. TUV Rheinland (presente no Brasil) – certifica empresas em várias áreas de sustentabilidade, incluindo gestão de energia, gestão ambiental, gestão da cadeia de suprimentos etc..

EXISTEM NORMAS ESG?

Não existe uma norma específica que aglutine todas as práticas de uma só vez e em um único documento. porém existem normas e diretrizes que compõe um conjunto de regras que auxiliam na implementação da ESG e podemos citar algumas:
1. Global Reporting Initiative (GRI) – é uma estrutura de relatórios globalmente reconhecida para relatar informações sobre desempenho ESG. A GRI ajuda as empresas a identificar e gerenciar seus impactos ESG e a se comunicar com as partes interessadas sobre suas práticas de sustentabilidade.

2. ISO 14001 – é uma norma internacional de gestão ambiental que estabelece os requisitos para um sistema de gestão ambiental eficaz. A ISO 14001 ajuda as empresas a identificar e gerenciar seus impactos ambientais e a implementar práticas mais sustentáveis.

3. ISO 26000 – também é uma norma internacional de responsabilidade social que oferece orientação sobre práticas socialmente responsáveis. Esta norma ajuda as empresas a identificar e gerenciar seus impactos sociais e a implementar práticas mais responsáveis.

4. Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) – é uma iniciativa liderada pelo setor privado que oferece orientações sobre divulgações financeiras relacionadas ao clima. O TCFD ajuda as empresas a avaliar e divulgar seus riscos e oportunidades relacionados às mudanças
climáticas

5. United Nations Global Compact (UNGC) – esta é uma inciativa da ONU (Nações Unidas) que promove práticas empresariais responsáveis em áreas como direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. A UNGC ajuda as empresas a alinhar suas práticas com os Objetivos de Desenvolvimento sustentável da ONU.
Vale ressaltar que a implementação de práticas ESG deve ser adaptada às necessidades e circunstâncias específicas de cada organização, não dá para aplicar todas as práticas de ESG numa mesma organização e ao mesmo tempo, algumas delas podem não fazer sentido algum e gerar somente gastos de tempo e dinheiro e não gerar o resultado esperado. Lembrem-se do que citei acima, tem de haver um objetivo claro e transparente, assim como metas realistas.

PRAZO DE DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO?

O prazo estimado para o desenvolvimento, implementação e certificação pode variar dependendo da complexidade e tamanho da empresa, assim como, depende do nível de maturidade em relação às práticas ESG em que ela se encontra.

Por ser um processo contínuo e que requer comprometimento e esforços dedicados dos envolvidos, este processo pode levar, dependendo das normas em que se apoie, de 6 meses até 2 anos.

O mais importante é entender que a implementação da ESG não é um processo isolado, mas que envolve toda a organização em ciclos de melhoria contínua.

QUAL É O INVESTIMENTO?

Da mesma forma que o prazo, o investimento pode variar muito em função das mesmas características apontadas acima, mas tenham em mente que estes custos podem envolver os seguintes tipos de custos:
1. Consultoria especializada – para avaliar as operações e identificar oportunidades de melhoria.

2. Treinamentos de colaboradores – envolve treinamentos e conscientização destes frente às práticas ESG. Desta forma há a preparação dos colaboradores para que estejam comprometidos com as metas estabelecidas que estão por vir.

3. Investimento em infraestrutura e tecnologia – aqui podemos citar investimentos em equipamentos de baixo consumo de energia, sistema de gestão de resíduos etc.

4. Auditorias e certificações – auditorias internas e externas são pré- equisitos para obter certificações, portanto, é um custo a ser considerado.

O consenso é que, mesmo que o investimento seja elevado, ele pode trazer benefícios significativos em termos de redução de custos operacionais, aumento da eficiência, melhorias na imagem da empresa e maior engajamento de funcionários e clientes.

Algumas fontes estimam que o investimento necessário para implementar um programa abrangente de práticas ESG pode variar de 05% a 2% da receita anual da empresa. Só lembrando que esta estimativa é apenas uma referência e, dependendo do caso, este número pode atingir percentuais
maiores, ok?

Outro ponto importante é que a empresa faça uma avaliação cuidadosa de seus objetivos, das suas prioridades e, principalmente, dos recursos disponíveis para investimento nas práticas ESG, para no fim, garantir que o investimento seja direcionado da forma mais eficaz possível.

CONCLUSÃO

Este ainda é um tema que dará muito o que falar e ensinar a todos nós, não quis aqui esgotar todo o assunto pois, como disse no início, fiz várias pesquisas e conversas para poder trazer e dividir um pouco do meu conhecimento com os leitores. Espero que tenha contribuído, mesmo que de forma genérica, com nosso público.

Até mais,

Rogério Sagliocco. Tecnólogo em Mecânica com especialização em Processos de Soldagem pela Unesp, pós graduado em Gerenciamento de
Projetos pela Escola Politécnica-USP

Matéria da revista AETEC nº48 edição.

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Boa leitura!

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