EDIFÍCIOS COM FACHADAS ESPECULARES E SEUS IMPACTOS NA CIDADE

As tecnologias construtivas vêm passando por constantes evoluções para o desenvolvimento de fachadas envidraçadas que, por sua vez, têm ganhado cada vez mais espaço na arquitetura contemporânea, uma vez que é comum observar, em projetos contemporâneos, um percentual significativo das mesmas em distintas orientações azimutais.

O apelo mais comum para justificar a utilização de vidros refletivos em fachadas cortina tem sido o de garantir maior e melhor captação de luz natural, o que não é necessariamente uma verdade incontestável. Outro argumento igualmente difundido é o apelo estético, supostamente capaz de garantir harmonia e leveza.

As fachadas especulares são revestidas por materiais que têm propriedades reflexivas. A luz que atinge uma superfície polida como a de um espelho terá uma reflexão especular, o que significa que o ângulo de incidência da luz que entra será igual ao ângulo de saída da luz refletida, diferente de uma reflexão difusa em que os raios de luz refletidos se propagam em várias direções diferentes.

A reflexão especular permite a reprodução intensa do brilho do sol ao refletir raios solares, e ocasiona um contraste entre o ambiente e o excesso de luz refletido que intercepta o campo visual. O ofuscamento significa contrastes fortes e extremos de Luminâncias (percepção de brilho) e podem atrapalhar ou até inibir a realização de uma tarefa visual. Ou seja, o ofuscamento é a sensação produzida pelo brilho no campo visual maior a qual o olho está adaptado no momento e, portanto, causa incômodo, desconforto e perda total ou parcial da visibilidade.

A incidência direta dos raios solares geralmente ocasiona o ofuscamento, mais comumente vivenciado pelo motorista no início da manhã ou no final da tarde, quando o sol está próximo do horizonte.

Segundo a Comissão Internacional de Iluminação (CIE, Comission Internationale de L’Éclairage), o ofuscamento é a sensação visual produzida por áreas brilhantes dentro do campo de visão, ou seja, é a sensação visual causada pelo excesso de luz em nossos olhos que pode ou não prejudicar a visualização dos objetos. Em alguns casos, pode ocasionar cegueira momentânea durante a exposição do brilho e levar até 7 segundos para que o sujeito recupere a normalidade de sua visão.

O ofuscamento, de acordo com a CIE, pode ser classificado como desconfortável, inabilitador ou refletido. O ofuscamento inabilitador ou desabilitador prejudica a visão do objeto de interesse, provocando o efeito de véu na imagem. Já o ofuscamento refletido é aquele causado por reflexões em superfícies especulares, também sendo conhecido como reflexão veladora.

Os impactos negativos, como por exemplo o ofuscamento, o desconforto visual e o desconforto térmico podem ser observados em meio à cidade quando as fachadas especulares refletem raios solares e essa reflexão especular encontra o campo de visão do observador. Um exemplo comum desse acontecimento é em situação de trânsito na cidade, quando o motorista é surpreendido pelo brilho refletido de uma fachada espelhada.

O brilho refletido pode incomodar não só motoristas ou transeuntes nas proximidades do edifício especular, como também o dia- a dia das atividades em edifícios vizinhos. Exemplos disso são, 1- o Edifício Museum Tower que modificou a insolação do edifício a sua frente, o Centro Nasher de Esculturas (de Renzo Piano construído em 2003 em Dallas no Texas), que a partir da reflexão solar de sua fachada, danificou as obras de artes no seu interior do centro de esculturas; 2- o Walt Disney Concert Hall, projetado por Frank Gehry, em que algumas de suas partes refletem diretamente a luz solar em edifícios vizinhos, motoristas e pedestres ocasionando o desconforto visual, o aquecimento no interior de algumas unidades e a obstrução momentânea da visão de motoristas e pedestres que passam no
cruzamento em frente a ele.

Os materiais usualmente utilizados na superfície das fachadas desses edifícios são o vidro e o aço inoxidável polido. Esses materiais podem provocar o aumento da carga térmica e, consequentemente, o aumento do consumo de energia ao receber concentração de radiação que provoca ganhos de calor indesejados.

Taísa D. Pavani. Arquiteta e Urbanista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestranda em Tecnologia da arquitetura pela FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Contato: taisapavani@usp.br

Matéria da revista AETEC nº47 edição.

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