ECONOMIA CIRCULAR:
A SOBREVIVÊNCIA 

O processo de produção vem se desenvolvendo desde a primeira Revolução Industrial no final do século XVIII. A sociedade também mudou: era agrícola, se tornou industrial e agora, digital. A rapidez dessas mudanças desenvolveu diferentes habilidades nas pessoas e novos modelos de negócios, sempre na busca de resultados. O desenvolvimento tecnológico contribuiu com o aperfeiçoamento de diversos processos produtivos, acelerou a produção em níveis cada vez maiores com ganhos de capacidade e produtividade, mas comprometendo as reservas de recursos naturais, que pode afetar a continuidade dos negócios.

Na maioria dos processos produtivos, as matérias-primas são extraídas da natureza em velocidade tal que não permite a regeneração do planeta. Também muitos resíduos da produção e o descarte de produtos usados contribuem para impactos diversos ao meio ambiente, ao ser humano e aos governos: poluição, aquecimento global, problemas de saúde, gastos públicos, e muitos outros.

O processo atual extrai, produz, usa e descarta. É a economia linear (EL). As implicações negativas desse processo são a exploração desenfreada de recursos naturais e descarte final com problemas ambientais e sociais. Essa situação tende a se complicar para atender o crescimento das necessidades humanas pelo aumento da população mundial e maior exploração de recursos naturais, com mais impactos e maiores desgastes ao meio ambiente.

Os recursos necessários para a produção não são infinitos e são grandes os riscos de colapso na EL, pois a maior produção gera mais extração, mais lixo, tanto da produção, como do pós-uso: sem recursos naturais não há produção.

É evidente a necessidade de uma nova economia que considere as situações presentes e críticas da EL. Esse novo modelo é chamado economia circular (EC), onde os fluxos de materiais são contínuos e os resíduos são transformados em matérias-primas; o sistema é regenerativo: nada se perde, tudo é transformado, como na natureza, sendo o lixo abolido ou minimizado. A Figura 1 apresenta os dois modelos.

A EC considera o compartilhamento de produtos, conserto e reutilização. O que se extrai do meio ambiente volta naturalmente ao final do ciclo, sendo regenerado, reutilizado e reciclado. Luz (2017) cita que apenas 9% do material utilizado na produção retorna ao processo produtivo ou ao meio ambiente de forma devida. O resto vai para aterros sanitários ou é descartado na natureza sem qualquer tratamento, poluindo cidades, rios e mares. Nesse conceito de produção, onde o objetivo é não gerar lixo ou fazer com que seja o mínimo possível, alguns caminhos são necessários, como desacelerar a extração, reduzir as perdas, aperfeiçoar o uso de materiais e circular mais e melhor, já que o objetivo do crescimento econômico é atender necessidades da sociedade. A EC pensa em novos ciclos de materiais, de produção e de modelos de negócios.

Fato relevante é que a EC não é solução para problemas da EL; ela muda o sistema atual, evitando tais problemas. A EC foca em recursos renováveis e uso de resíduos como recursos, compartilhamento e maior vida útil de produtos por reparos, modernização, revenda e uso compartilhado, durabilidade e modularidade. Os resíduos são tratados como recursos valiosos e não sem qualquer valor e produtos e materiais são concebidos visando a possível reutilização e não apenas o descarte. Os conceitos e práticas de EC ainda são relativamente novos no Brasil, mesmo estando adiantado em alguns países, Holanda, por exemplo, mas algumas empresas já estão utilizando-os nas políticas de produção e relacionamento com clientes e fornecedores, com destaque para Natura, Dell, Citrosuco e construtoras Newinc, Precon e MRV.

A economia circular impulsiona negócios atuais, cria outros negócios, gera empregos, protege o meio ambiente, revê valores e atitudes, cria consciência no consumo e melhora relações: é o novo comum na produção.

Mauro Campello. Mestre e engenheiro de produção. Palestrante, professor, consultor.
Sócio da MC Treinamentos. mcampello@yahoo.com

Matéria da revista AETEC nº35 edição.

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