GRANJA NEWS – ARQUITETURA E URBANISMO – MAIO 2013 – ARQ. MARTHA NADER

Desenvolvimento Urbano Sustentável: uma questão de espaço.

Em 24 de maio de 2007 foi assinada na Alemanha a “Carta de Leipzig”, que define as novas bases para a ordenação territorial das cidades européias. Em uma nova reunião ocorrida em Marselha em novembro de 2008 entre ministros de estado de vários países europeus, definiu-se que essas novas políticas sejam implementadas já a partir de 2010: as cidades do velho continente agora deverão manter seu foco em políticas que resolvam os problemas de exclusão social, envelhecimento, alterações climáticas e mobilidade. A carta de Liepzig propõe, de forma genérica, o fortalecimento do centro das cidades, e conseqüente combate à dispersão urbana, com o sentido de conter problemas ambientais causados pelo excesso de deslocamento (tráfego intenso de veículos, poluição) e aumento da área de solo ocupada. As outras ações propostas pela Carta de Liepzig são óbvias  – apoio a bairros carentes e melhoria das políticas de financiamento à infraestrutura urbana.

A necessidade de um modelo centralizado de desenvolvimento urbano explica-se no velho continente pela proliferação de cidades com centros vazios e degradados e pela óbvia falta de espaço.

No entanto ao retornarmos à autodefinida obra mais poética que arquitetônica de Le Corbusier, e seu discípulo máximo brasileiro, Lucio Costa, temos o exemplo do pai que não faz jus ao filho – Brasília, como já foi dito tantas vezes, foi maior que o Brasil.

Torna-se inevitável pensar que a questão do espaço em nosso gigante tropical, bem como o absurdo caos urbano das grandes cidades do eixo sul brasileiro, tornou a nossa concentração um mal tão evidente quanto a nossa paradoxal dispersão. Se por um lado os nossos tão poucos espaços abertos não tem, por exemplo, a mesma qualidade ambiental do Parque das Nações em Lisboa, ou de “El Retiro” em Madrid, por outro as distâncias aleatoriamente percorridas pelos habitantes das nossas cidades seja para o trabalho, para casa ou em busca de lazer ou prática de atividades físicas, tornam muito pouco sustentáveis as nossas cidades, em especial as grandes metrópoles.Qual seria então o modelo de desenvolvimento urbano sustentável adequado ao Brasil? Se pensarmos no binômio ambiente-qualidade de vida, há que se descobrir um modelo de implementação de núcleos suburbanos regionalizados, de modo a garantir um mínimo deslocamento dos seus habitantes. Deverão esses subúrbios ser permeados por grandes áreas de preservação e, obrigatoriamente, ser interligados por transportes públicos eficientes e de qualidade.

É preciso, portanto, combater a especulação imobiliária desenfreada e caótica que assola áreas de tradicional preservação ambiental na periferia, como a Serra da Cantareira, o município de Cotia, na Grande São Paulo, ou a Barra da Tijuca e seus subúrbios no Rio de Janeiro, ainda que essa preservação tenha se dado mais por abandono, fatores geográficos ou acaso do que por adoção de qualquer modelo consistente de conservação.É preciso, mais do que nunca, promover os urbanistas a uma categoria multidisciplinar de estudiosos do ambiente urbano e suas inter-relações funcionais, naturais e culturais, visando uma sustentabilidade certamente mais permanente do que a mera análise de desempenho energético dos edifícios que hoje é promovida pelos arquitetos que já se dedicam a essa causa.

Maria Martha Nader

Arquiteta Urbanista

www.ecohabitararquitetura.com.br

fone: 4702-2701

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